Que o tempo coloque as coisas no lugar

(Leia este texto ao som de O senhor da razão)

Um nó atado na garganta e outro dentro do peito. Quase trancando a respiração em uma agonia brava de quem não sabe o que fazer para liberar a passagem do ar. Espero, como se nunca tivesse feito antes.

A sensação é absurdamente estranha. Parece que a casa da gente deixa de ser lar e perdemos abrigo. Parece que o peito esquece de ser morada para escancarar as próprias portas para um frio ardido para burro poder entrar. Parece que deixamos de ser nós mesmos por um espaço de tempo.

É nas manhãs cinzas desses dias chuvosos que custam passar que eu espero. Com os segundos parecendo regredir em si mesmos a cada instante, eu confio. Ou tento. E me moldo. Não sei ao certo. Mas espero, esperando que as coisas não terminem de uma só vez. Confiando que tudo possa passar.

Uma das músicas que mais marcou minha adolescência diz que tempo mostra o caminho quando a tempestade que se torna nossas cabeças resolve passar. A esperança que eu tenho é justamente essa. Um pouco mais a cada minuto que passa. Torcendo com todas as forças para que o poeta esteja certo.

O que eu espero agora é que estejamos longe do fim. O tempo seria cruel demais se resolvesse não passar, ainda que andando. Se resolvesse não que não é possível tentar ser feliz outra vez, mesmo que não do mesmo modo. Mesmo que diferente de agora.

Eu me inclino e faço uma prece. Eu sei que as coisas vão acabar sendo assim por um tempo, e concordei ainda que mentalmente quando você disse que eu errei. Tudo enquanto eu me perdia em algumas versões de mim que não são exatamente eu. Que não são aquilo o que eu sou.

É assim nos filmes em que eu viro pro lado para não precisar assistir, nas séries que eu nunca coloco reproduzir na tevê. Não seria eu, não teria como ser sem você. A sensação é absurdamente estranha, mas eu espero; e confio; ou tento; não sei ao certo.

Falta teto, falta lar, falta abrigo. E eu espero o tempo me permitir voltar a ser quem era.

Júlio Hermann

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