(Leia este texto ao som de Save Tonight)
Depois de terminar o filme, em uma noite abafada. Eu tava com o corpo todo embaixo das cobertas quando você me disse que gostava do som da minha respiração ofegante enquanto eu falava. Demorei um segundo para voltar ao mundo depois que o som da tua voz ultrapassou os meus tímpanos, mas foi o suficiente para ter certeza.
Faz um tempo que as coisas tem sido assim. Você diz uma vírgula, eu sorrio. Imagino futuro, faço planos, penso na infinidade de cachorros que eu quero abrigar em casa nos próximos anos. Tudo para deixar tudo um pouco mais confortável de um jeito que te faça feliz. Tudo em busca de fazer o tempo parar em um instante de perfeição que faz os músculos do meu rosto doerem de tanto sorrir.
Houve um tempo em que disseram que eu era infantil demais. Assistia desenhos, rabiscava futuros, pensava que as coisas todas poderiam ser do jeito que eu imaginei enquanto sonhava. Esquecia de pegar no sono para isso, diziam, esquecia de acordar para a vida para perceber que as coisas não são assim. Mas quem é que disse que não precisam ser?
Não consigo encontrar motivo para levantar todos os dias se não for para buscar aquilo o que vai nos fazer felizes. O segredo do céu é começar a vive-lo ainda na terra, me disseram, e é isso o que eu tenho feito em toda vez que me permito baixar os olhos de vergonha quando você fala do som da minha voz – mesmo que você não veja.
Depois de o final feliz de um filme infantil engraçado, ainda com o corpo inteiro embaixo das cobertas para abafar o som da minha voz, você disse que me sentia mais perto assim. Demorei um segundo para voltar à consciência depois de ouvir isso, mas não foi o suficiente para que eu não sentisse o coração acelerar do modo como sempre acontece quando eu também escuto você.