(Leia este texto ao som de I Won’t Let You Go)

Nem era nada demais quando você perguntou se eu aceitava um pouco mais de vinho. Disse que era para adoçar a vida. Mas é tinto seco, amor. Tão tinto que me deixou manchado de cabo à rabo quando terminou.

Comentou que tinha mais uma garrafa no canto do armário de comidas. Pensei em levantar umas três vezes, programando um modo que tirasse a tua cabeça do meu peito de um jeito sutil. Percebi que não daria tempo quando você passou os punhos pelo canto das pálpebras e abriu a boca. Não demorou muito para pegar no sono. Não demorou quase nada para acabar também.

Liguei duas semanas depois só para saber como iam as coisas. Mensagem e mais mensagem, massageando o que eu jurava que a gente tinha até acalmar demais. Culpa da minha mania invasiva de querer saber se tá tudo bem e o que eu posso fazer para te ajudar amanhã? Tudo bem, então, fica bem.

Lembro de uma noite de domingo em que eu não quis voltar pra casa. Você jurou que as coisas permaneceriam bem assim, pelo mesmo motivo de sempre e mais nenhum. Nem um pouco de carinho seria suficiente para me fazer mudar de ideia naquele dia.

Você nunca soube o meu lugar preferido no mundo e eu nunca tive coragem de perguntar o porquê da tua mania de morder o canto direito do lábio depois de beber. Costume, pensei comigo. Será que costuma ser assim com todo mundo?

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Não faço mísera ideia do que enxergo em você, mas parece que a cabeça entra em transe em toda vez que o celular toca e eu não atendo a ligação. Parece que o mundo gira um pouco mais devagar quando não é você na mensagem da manhã.

Nem era muita coisa quando você perguntou se eu queria mais vinho. Queria. Só o suficiente para sentir um pouco mais daquilo o que eu vinha sentindo nos últimos dias.

Júlio Hermann