Eu sinto frio

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Não consegui mais segurar o choro depois de fechar a porta. No dia em que a gente se conheceu, você passou a mão pelo meu cabelo e perguntou se eu sentia frio. Minhas mãos estavam roxas por conta do contato com o vento e eu mal conseguia deixar as pernas quietas com elas no meio para amenizar a situação, mas frio foi a última coisa que eu senti ali.

Tu não soube, não tinha como saber, mas eu fechei os olhos para ver se enxergava alguma coisa naquele instante. O compasso do meu peito nem era tão descoordenado assim, mas você teria percebido o quanto a aceleração crescia a cada segundo se tivesse colocado as mãos ali. Coloca os dedos em cima e vê se tu enxerga alguma coisa que eu não consegui aqui dentro. Parece um amontoado de tralha empoeirada atirada em um cômodo escuro.

Foi quatro semanas depois, com as luzes do meu quarto acesas, que você passou a mão pelos meus ombros e perguntou se já podia tirar um cobertor da cama. Eu tava prestes a explodir em raiva ali. Como é que alguém chega assim e já quer mudar as coisas de lugar? Mas era você, então tava tudo bem.

Até que minutos depois você reclamou do trabalho. Eu, que sempre tento enxergar o lado bom das coisas antes de me queixar por algo, amei você ali. Amei no modo como suspirava pesado e fechava os olhos a ponto de explodir. Amei no jeito que perdeu a pose minutos depois, deixando para lá e descansando a cabeça no meu ombro. Tá confortável assim? Prometo não me mover demais se você decidir ficar.

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Dois anos mais tarde, quando eu não consegui segurar o choro na noite passada, bateu um monte de coisas ao mesmo tempo aqui dentro. Só enxerguei cinza no teto do quarto, só encontrei a coberta guardada porque a temperatura caiu demais depois que o sol se pôs. Será que você também lembra de mim quando o mundo parece correr para longe do alcance das mãos?

Ficou martelando na cabeça porque só eu sei o quanto você é incrível. Você perguntou se eu sentia frio. Sinto. Mas frio é o que menos me importa agora.

Júlio Hermann

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