(Leia ao som de Medicine)
Ontem eu cheguei em casa tarde da noite. Na breve visita de menos de um dia à minha família, consegui amar e matar a saudade que volta e meia me corrói por dentro. Mas nem toda visita e reencontro acaba por ser igual: alguns transbordam de um lado, outros de outro. Desta vez sobrou amor escorrendo pelas bordas.
Meu avô tem 86 anos. Ontem, por um desígnio de Deus que não conheço, ele esteve comigo. Numa dessas conversas que se avizinham a madrugada, ele pegou todo o amor que existe ao redor das relações e condensou em um relato que mudou completamente o sentido das coisas dentro do meu coração.
Ele vem de uma época em que os grandes presentes, as compras pela internet, as grandes obras de arte e a tecnologia não são acessíveis ao amor como hoje. Se demonstrava afeto pelo que se fazia, não pelo que se poderia dar.
Com os olhos emocionados, ele complementou um amor que eu já conhecia com algo que brotava de dentro para fora e eu não via. Minha avó, que morreu em 2007, viveu muitos anos dependente dele em cadeira de rodas. Meu avô, no interior, cuidava das plantações e das coisas da terra e se dedicava a dar a ela o amor necessário para continuar vivendo feliz.
Então, ele me contou que no velório dela, um vizinho contou que enxergava as vezes em que ele corria para socorrer suas necessidades. Minha avó tinha sempre um apito alto, que soprava quando precisava de qualquer coisa. Meu avô, que escutava do meio do trabalho, não se preocupava em manobrar seu trator para chegar mais perto de casa e facilitar as coisas. Antes, desligava a máquina e se punha a correr, para chegar mais rápido e oferecer o amor necessário. Esse ato acontecia algumas vezes por dia, ao passo que o vizinho contemplava em segredo.
Isso era pesado para ele? Fisicamente deveria ser bastante desgastante, sim. Mas ele não tinha motivo nenhum para reclamar, já que o valor do amor se mostra no custo que volta e meia ele exige de nós.
Em duas décadas meu avô nunca murmurou por precisar se esforçar para amar, porque o esforço no amor nunca pesa como fardo. Também, ele guardou isso no coração por uma década e meia, porque nunca enxergou motivo para se gloriar do que fazia.
O amor é assim, não? Se faz o que se faz não porque se é bom demais, correto demais, amoroso demais, mas porque o coração suplica e coloca em prática o que parece evidente — ainda que fora dos holofotes do que os outros pensarão ou ignorando o que o próprio corpo cobrará pelos esforços.
Afinal de contas, amor não é o que se diz — ainda que dizer seja importante. Amor é o que a gente faz com custo e ignorando o preço, porque amar é mais importante do que equilibrar as contas.
Pena que nossa geração se preocupa tanto em dar amor na mesma medida em que se recebe, com medo de ser feita de boba. Porque isso não é amor, é afeto como moeda de troca.
Júlio Hermann
Espero que você tenha gostado desse texto. Fique com Deus e tenha semana de Páscoa feliz. Que Maria e teu Anjo te ajudem.
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