(Leia este texto ao som de Hurt for Me)

Eu teria guardado você mais tempo na minha vida se ainda houvesse espaço. Não sei exatamente quando foi que você deixou de caber. Num dia você estava preenchendo milimetricamente os espaços; no outro, transbordando pelos poros até escorrer pelo chão.

Meus amigos me avisaram sobre isso. Preferi ignorar. Como eu poderia acreditar que amar alguém pode fazer com que percamos de vez quem somos para nos adequarmos às vontades da tal pessoa? Começou com o desmarcar dos meus compromissos, a ausência dos meus amigos, a mudança dos meus planos para o verão. Aos poucos, já não era mais eu. Eu havia me tornado uma maquina sem vontade própria, pronta para te agradar.

Sua presença em mim passou então a ser excesso. Não estava certa sua forma de me anular. Mas, veja bem: a culpa não exatamente sua, eu tenho minha parcela de responsabilidade na história toda também. Fui eu quem decidiu viver uma vida com o objetivo único de te fazer caber. E você coube, até começar a ser demais para que eu conseguisse suportar.

Me dar conta disso não foi fácil. Não se reconhecer diante do espelho causa um choque imediato. A gente pisca uma, duas, três vezes para ver se acorda e se encontra. Mas a ausência de respostas de nós mesmos exige uma fuga.

Guardei você em mim pelo maior tempo que pude, até perceber que eu já não era eu. Acontece, infelizmente acontece.

Desculpa por correr. Desculpa por despejar você de mim mesmo sabendo que o seu contrato de aluguel ainda estava vigente. É só que eu precisava tomar de novo posse do que era meu.

Eu já não era seu. Para isso, precisava ser meu primeiro. E não era. Se havia uma coisa que eu havia perdido pelo caminho, era eu mesmo.

Quem sabe um dia eu consiga ser inteiro por mim mesmo para acolher você sem sentir que me anulei por te amar. Mas, por enquanto não; ainda não.

Júlio Hermann

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Espero que você tenha gostado desse texto. Fique com Deus e tenha uma linda semana.

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Foto: crédito aqui.