(Leia este texto ao som de Dreams)
O quanto eu teria que deixar para trás de mim até conseguir me encaixar na sua vida?
Eu me perguntei sobre isso madrugadas inteiras. O seu cheiro parecia invadir minha casa pelas frestas da persiana. O seu sorriso tinha a chata mania de deixar sem graça todos os outros sorrisos das fotografias no aparador da entrada. As suas mensagens faziam meu celular vibrar com mais intensidade que o normal, já que até ele sabia o efeito que você causava em mim.
Para te agradar, eu passei a fazer aulas de etiqueta no YouTube. Quis aprender a ser um alguém mais gentil, reto, arrumado para dar a você um carinho um pouco menos indigno. Queimei quatro panelas de arroz, até acertar o ponto e te convidar para um risoto que eu não gostava tanto assim. Aprendi sobre vinho e cervejas artesanais, ainda que meu paladar reclamasse horas a fio por isso.
Você me pediu para mudar as pessoas com quem eu convivia. Quer dizer, não verbalmente. Mas eu conseguia notar nos seus olhos uma insatisfação imensa quando eu estava com os amigos que amei uma vida inteira.
Troquei as corridas na praça por academia três vezes por semana, para estar mais perto de ti. Mudei minha hora de dormir e acordar, para aproveitar mais minutos contigo antes de enfrentar a vida real em um novo dia de trabalho. Forcei meu coração a amar personagens de livros que ele não queria gostar, só para ter mais coisa para dividir contigo.
Mas isso é amor?
Digo, ceder em tudo para agradar ao outro é mesmo uma prova de amor?
Me perguntei o quanto mais eu teria que deixar para trás para ser alguém menos indigno de você. A resposta veio como uma bala: eu já não era eu.
Então desisti. Não havia mais motivos para continuar. E esse texto é só um pedido de desculpas.
Perdão, mas eu não posso continuar te querendo assim.
Júlio Hermann
Espero que você tenha gostado desse texto. Fique com Deus.
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