Sobre a ideia de te perder

(Leia este texto ao som de Reptide)

Eu guardei os vestígios das tuas visitas na minha vida para não esquecer de quem fomos. Não porque eu queria que nós acabássemos, ou queira agora, mas para diminuir os riscos. Não queria pensar em quão difícil seria convencer o meu coração que existiria uma vida completa depois de você partir.

Os toques dos teus dedos nos meus, as tardes de sábado que passamos no cinema, as visitas a casa da minha avó, os churrascos de domingo na casa da sua tia… A gaveta do meu quarto se encheu de cupons fiscais e restos dos papéis que eu rasgava ao meio para escrever bilhetes e colocar escondidos no bolso do seu casaco.

Só para o caso de, no futuro, eu precisar argumentar que o que fomos não era coisa da minha cabeça.

Passei a registrar os feriados no meu diário com caneta vermelha, para não esquecer dos dias em que estive contigo. Guardei os copos de café vazio, com o açúcar ainda no fundo, que você costumava deixar no lixo do meu carro. Me senti meio doentio até, mas justifiquei que era saudade.

Saudade de quem ainda estava comigo.

Estou te dizendo isso porque passei a noite passada inteira pensando em quão horrível seria te perder, em como seria viver uma vida sem o som da sua voz, sem o cheiro do seu cabelo, sem as mensagens que você me mandava logo depois de acordar.

E não seria exatamente bom.

Nem consegui concluir como seria, para falar a verdade.

Quando a gente ama calha de ser assim: passamos a ter medo de realidades que não existem. Afinal de contas, um simples pensamento de não ter mais você comigo seria o suficiente para justificar uma noite inteira em claro.

Mas não é só quando isso acontece que você me ilumina.