Se nós tivéssemos feito diferente

(Leia este texto ao som de Dreaming with a Broken Heart)

Será que meu erro foi inserir você em todos os cantos da minha vida quando te conheci?

Eu fiquei pensando sobre isso enquanto demorava a dormir noite passada. Era quase manhã quando eu peguei no sono, mas deu para visitar todos os cantos escuros da casa enquanto o cansaço não me derrubava. Te achei num quarto dos fundos, no corredor do prédio, no suporte atrás da porta da cozinha onde eu penduro as vassouras. Mas não te vi. Estava escuro.

Acho que acordei duas ou três vezes o vizinho de baixo enquanto ia de um lado para o outro. Repassei mentalmente quatro vezes todas as visitas que você me fez enquanto ainda éramos alguma coisa. As macarronadas que fizemos. Os filmes que assistimos. As pipocas que queimamos no microondas.

Nós nunca deixamos claro o que éramos um para o outro, né?

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Esse foi o mais difícil: entender quem fomos enquanto te encontrava pelos cômodos. Sua voz não chegou aos meus tímpanos, mas a memória era tão latente que eu te imaginava pela casa. Fiz anotações, rabiscos e mais rabiscos em caixas de pizza, para marcar o papelão com o que dizíamos um para o outro.

Sua comida favorita havia se tornado a minha preferência, contigo ou longe de ti, porque eu queria te sentir perto. Minha bebida favorita deu lugar às tuas taças de vinho branco, porque eu sentia precisar educar meu paladar ao seu. Minhas opções de filme para tardes de sábado passaram ser sempre os mesmos clichês, mas eu até gostava deles.

Acho que meu erro foi esse: mudar minha vida para ser agradável a sua. Você nunca me pediu isso, mas eu quis.

Pensei em como você estava enquanto o sol subia no oriente. Quem sabe, se existissem versões novas de quem fomos, pudéssemos ser felizes. Talvez, se os meus sorrisos fossem menos programados e minhas palavras menos calculadas em nossas conversas? Não sei se um dia saberei.

Mas senti sua falta. Porque o luto passa por abraçar a dor.

No entanto, uma hora a gente se encontra e coloca na mesa tudo aquilo que um dia não colocou.

Júlio Hermann

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Foto: Pixabay.

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