Você não poderia ser a pessoa da minha vida

(Leia este texto ao som de Into The Sun)

Eu te amei pela primeira vez naquele fim de tarde, depois de te contar sobre como a vida andava na faculdade. Você me disse que era preciso que eu aprendesse a abandonar as coisas, deixar partículas para trás a fim de não me ver preso a uma âncora que me impedisse de ser feliz. Eu concordei.

Você foi a primeira pessoa a saber daquilo. Eu não poderia contar em casa, porque meu peito ficaria escancarado demais para as pessoas da minha vida. E eu não queria que eles me olhassem com olhos de piedade ao invés de amor. Não poderia contar para o meu melhor amigo, porque ele perguntaria dos meus planos para o futuro – e eu não saberia exatamente o que responder.

Mas não havia problema em dizer a você.

Os teus olhos pesados pela forma como o mundo te batia me perfuraram o peito. Eu quis te contar sobre a forma como as minhas pernas tremiam a cada vez que você olhava o sol e baixava o rosto, olhava de novo e contemplava as próprias mãos abertas sobre as pernas. Mas não seria justo. Ele tinha te machucado a ponto de rasgar teu coração e botar uma brasa ardente nele, e você ainda o amava. Seria lícito eu despejar o meu amor nestas circunstâncias?

Eu não podia fazer nada quanto a isso.

Acabei vivendo aqueles dias com você me arrastando de um lado a outro da cidade, em meio a uma dança que falava de esperança. Você deve ter percebido o quanto eu te queria pela sutileza com que minhas mãos tocavam seus ombros. Mas, quando a saudade dele batia no teu peito, eu só conseguia te dizer que tudo ia ficar bem um dia.

Talvez não fosse ficar tudo bem entre vocês. Mas isso não me consolava, porque provavelmente não ficaria entre você e eu também. Não como eu queria.

A segunda vez que eu te amei foi naquele café improvisado no posto de gasolina perto de casa. O seu jeito de mexer o açúcar era diferente do meu. Existia ternura ali, uma ternura que nunca seria minha – e você também mexia em mim, mas não poderia saber. Seria injusto jogar esse peso nos seus ombros, eu já disse.

A verdade é que eu te amei umas quatro ou cinco vezes mais naquela mesma semana, mas eu não poderia continuar. Não porque algo me prendia ou eu me sentia incapaz de te fazer feliz, mas porque você ainda estava presa a um amor que não te pertencia mais. Então, não podia me pertencer também.

Não era uma escolha que você poderia fazer.

E, nesta dor imensa de saber que a vida que eu queria contigo nunca seria minha, foi que eu preferi a sua felicidade. Na hora doeu, mas a minha alegria dependeria disso no futuro.

Uma hora ele chega.
Por enquanto, hoje te amei pela décima quarta vez.

Júlio Hermann


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