Você nunca soube que eu te amei

(Leia este texto ao som de Hindi Tayo Pwede)

Eu poderia ter te amado mais se não tivesse esperado o sol despencar no horizonte para dizer o que sentia. Meu peito batia apressado só de meditar na ideia de te contar as coisas que eu vi em mim depois de sonhar contigo e acordar.

Os meus pés tocando o chão. O café descendo pela garganta. Teu nome vibrando a tela do meu celular.

O bolo de chocolate que eu comprei para te dar numa tarde de segunda deveria ter sido uma prova do que habitava em mim e te pertencia, mas eu fingi que não dizendo que era uma breve coincidência; que você poderia passar lá em casa depois do expediente, se não tivesse nada para fazer; que eu poderia preencher as lacunas da sua agenda.

Eu queria tomar ela inteira, a ponto de mudar teus planos para estar comigo. Você só não sabia.

Quis te contar das coisas que senti quando vi a sequência do seu filme favorito em cartaz na capital, mas sugeri convidar uma amiga para ir contigo. Eu não queria invadir seu espaço, tomar posse de um tempo que era tão seu para ser de outra pessoa. Quis que você tomasse a iniciativa de me convidar e chamar para um café na praça de alimentação depois da sessão. Porque eu cismava que você sabia o que eu sentia.

Acho que esse é o ponto: eu tinha certeza que você sabia que eu te amava.

No jantar de quinta em que eu inventei estar convidando pessoas aleatórias a cada semana para rodízios de japa, só para conhecer mais à fundo os rostos que eu via com frequência. Você foi a única pessoa, sabia? Primeira e última. Na semana seguinte eu queria que fosse você de novo, mas como eu iria explicar se te chamasse outra vez?

Te segurei pelas mãos, te olhei nos olhos e te abracei até meu queixo descansar longos minutos nos seus ombros. Seu olhar parecia esperar que eu dissesse alguma coisa. Mas você já sabia, não? Já sabia que eu te amava.

Sempre achei que sim.

Eu poderia ter te amado mais se não tivesse cismado na ideia de que você sabia o que eu nunca te disse. Demorei longos meses para perceber que não. Por isso precisei ir embora: porque tinha que aprender a amar do zero, de um jeito novo, colocando para fora em palavras o que eu tentava escancarar com gestos que não eram tão claros assim.

Poderia ter te amado mais, sim, mas não fiz nada concreto para tornar tudo real. Desculpe por isso.

Júlio Hermann


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