(Leia este texto ao som de Someone You Loved)

Eu quis te amar quando o sol amanheceu naquela quarta-feira. As noites de chuva nas madrugadas anteriores eram um convite. Eu quase ouvia a água que escorria pela janela gritar por ti, enquanto o teu nome escrito na tela fazia o meu celular vibrar.

No dia em que você me largou em casa já na madrugada, eu quis com ainda mais força. Porque seu coração merecia um pouco mais de afeto do mundo. Porque os socos vindos de todos os lados não eram exatamente justos para alguém que se preocupava tanto em amar quem estava perto. Você me amava muito, né? Me cobrei por isso longas noites.

Tentei argumentar ao meu coração a necessidade de aceitar o afeto ao menos dessa vez. Os teus olhos pequenos, baixos pela timidez, eram como buzinas agudas no meu ouvido. Os pêlos dos meus braços chegavam a se arrepiar com as ondas sonoras, mas teu amor não me ensurdecia. Não ensurdecia, nem revirava sentido meu algum.

Fiz greve de fome durante duas noites, porque você era especial demais para eu deixar ir embora sem me esforçar para que ficasse. Eu te queria bem, te queria perto, te queria feliz; só não comigo. E isso era o que mais me batia com o passar das horas.

Quis te amar porque o amor exige que nos doemos por quem nos quer de volta, mas não consegui. Não pela tua aparência, teu jeito de falar, teus passos durante madrugadas frias para estar metros mais perto de mim. Mas porque o que revirava dentro de ti, como um sino com badaladas altas o suficiente para acordar uma cidade, não emitia som algum em mim.

Eu quis.
Mas te amar com um amor romântico não era uma escolha minha.
Desculpe por isso.

Júlio Hermann