(Leia este texto ao som de Medicine)
Perceber que continuar empurrando com a barriga poderia acabar com o resto de sanidade que havia em mim me tirou o chão. Quando nós começamos a passar nossos dias juntos, você havia escancarado um mundo novo na frente dos meus olhos. Contei sobre isso para todo mundo que eu via, na expectativa de mostrar o quão incrível você era.
Mas será que era incrível para mim?
Existia algo de atípico que me prendia a ti, me arrastando para mais perto cada vez que pensava em me distanciar. Os sorrisos que demos em manhãs ensolaradas na capital, as chuvas que assistimos juntos pela janela. Houve um tempo, dois anos atrás, em que eu não te quis. Lutei internamente contra isso, justificando ponto a ponto das minhas inseguranças. Adiantou por uns dias.
No ano seguinte, eu mantive o meu corpo no mesmo lugar que você, mas a mente distante. Me senti desconfortável pela falta de espaço, pelo pedaço da minha vida que você tomava e eu não podia te dar. Mas relevei por conta do amor que ocupava o lugar certo e me fazia ficar.
Perceber a necessidade de te deixar não foi exatamente libertador, porque você ainda tinha uma forma bonita de me amar – apesar dos estilhaços de bomba que me atingiam de vez em quando. Foi estranho. Eu te olhava no canto da sala, parada, vivendo normalmente como se eu não estivesse prestes a ir embora. Mas você não sabia.
Seguir em frente talvez fosse só materializar o que já havia acontecido com o meu coração.
Falei do que estávamos sendo para muita gente. Sua saúde mental vale mais que isso – me diziam. E era justo que valesse, porque o seu bem também era mais precioso do que aquilo que qualquer pessoa pudesse colocar no lugar que te arrancou.
Nem o afeto, nem a paixão, nem o dinheiro. Nada disso compraria a sanidade que eu precisava manter de pé em mim.
Talvez por isso fosse justo que eu seguisse.
Eu precisaria correr para alcançar meu coração, que já estava longe. Mas continuar te arrastando comigo não era uma possibilidade sincera com quem estávamos sendo. Acabei projetando uma vida inteira em ti, planejei futuro, inventei viagens para fazermos no verão. Mas isso não merecia ser motivo para te manter comigo se isso nos fizesse mal.
Entenda o que eu digo: o quão incrível você é não muda pelo fato de eu já não me sentir bem contigo. Eu só preciso ser honesto e colocar cada coisa no seu lugar. Entende?
A vida não pode ser um peso. E era necessário te deixar livre de mim, também.
Que nos perdoemos por ter demorado tanto a seguir em frente.
Júlio Hermann
*Meu novo livro já está à venda em todo o Brasil. Se você gostou deste texto, tem grandes chances de se identificar com ele.
Até onde o amor alcança
“UM DIA VAI SER AMOR A PONTO DE O CORAÇÃO NÃO PRECISAR CONVENCER O CÉREBRO DISSO.
ATÉ LÁ EU ARGUMENTO”.
PARA COMPRAR:
Créditos da foto aqui.