(Leia este texto ao som de Call You Home)
A minha confusão precisava ter data de validade. Eu não poderia continuar olhando no espelho todos os dias me culpando pelas escolhas que não fiz. Não era justo permanecer naquele dormir-trabalhar-estudar e no dia seguinte dormir-trabalhar-estudar de novo. Não por muito tempo – eu me dizia.
Foi assim que eu permaneci longas semanas depois de te perder de vista. Olhava em volta e enxergava tudo pela ótica da indecisão, da falta de rumo, da ausência que eu sentia do barulho do teu corpo colidindo com o sofá quando você chegava na minha casa e se atirava para chamar a gata pra deitar no seu colo. Era de um vazio estranhamente preenchido, saca? E eu precisava resolver isso.
Precisei olhar no espelho muitas vezes para entender que o motivo dos meus sorrisos permaneciam em mim. Eu não te amava menos por tudo que passou, nem te amava mais pelo que poderia a vir acontecer em um futuro aleatório qualquer. Mas eu precisava observar as coisas ao meu redor para entender que eu ainda estava no lucro, sabe? Porque o que eu cresci e o que eu vivi contigo permaneceriam em mim para sempre…
Eu tinha que acreditar que o tempo, dia ou outro, me faria desviar o foco das coisas. O gosto de café na garganta pela manhã seria menos amargo, mesmo sem adição de açúcar; viver engasgado com a esperança de ter aquele mesmo amor de novo em mim não seria requisito para eu continuar existindo.
Havia sido bom, sim; eu precisava me recuperar do que havia machucado, também. E, no meio dos meus processos, foi preciso me esfarelar pelo caminho para perder a pele que tocou aquela felicidade pela última vez.
Botei os joelhos no chão, encontrei no coração as respostas para quem eu precisava ser. Talvez te ter não fosse o melhor para mim, ainda que eu quisesse. Não era justo permanecer imerso naquela situação, procurando em nós o que – quem sabe – era impossível encontrar.
Respirei fundo, rezei um pouco, rabisquei quatro páginas de um caderninho enquanto tomava café da manhã e olhei no espelho para reconhecer o amor que eu verdadeiramente merecia ter em mim.
E decidi seguir sorrindo. Isso me salvaria um dia, eu tinha certeza.
Júlio Hermann
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Até onde o amor alcança
“UM DIA VAI SER AMOR A PONTO DE O CORAÇÃO NÃO PRECISAR CONVENCER O CÉREBRO DISSO.
ATÉ LÁ EU ARGUMENTO”.
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Créditos da foto: Leah Kelley