(Leia este texto ao som de Home)
Nós poderíamos ter dado certo se eu não tivesse inventado uma você nova e não tivesse me moldado inteiro para ser alguém que seu peito pudesse gostar. Inventei prioridades, fiquei esperando você corresponder às minhas frases pensadas sílaba a sílaba, esgotei madrugadas inteiras ao redor do bloco de notas do celular te escrevendo coisa bonitas – para te fazer querer ficar.
Adiantaria? Digo, eu iria querer que você ficasse de verdade?
Fiquei pensando no feriado de maio em que nos conhecemos e estivemos juntos pela primeira vez. Minha camisa preta fechada até o penúltimo botão, seu casaco leve para conter a brisa de outono que poderia nos atingir no cair da noite. Você me pedia para falar das coisas que eu amava, como se eu estivesse pronto para escancarar quem eu verdadeiramente era na sua frente. E eu não menti nesse dia, sabia? Mas tive medo de você não gostar de mim.
O nosso problema foi que eu nunca me senti suficiente para estar no mesmo mundo que você. Tracei estratégias, escrevi versos, desenhei monstros estranhos e inofensivos em guardanapos de papel para criar uma ficção que fosse nossa – mas amor nenhum sobrevive ao que não existe na vida real.
Eu sabia que não duraríamos muito tempo se eu não me entregasse com o amor que você demandava de mim, mas eu não sabia como deixar de lado o meu medo de sofrer. Entende? Eu tinha me arriscado tanto em outras chances que a carcaça que mantém o meu corpo de pé estava baleada na altura do coração. Tentei me fazer de forte, bloqueei sentimentos, evitei te olhar nos olhos para não te deixar transparecer que eu estava doidinho de amor.
Mas não adiantou muito.
E foi por isso que eu precisei correr, porque ou eu fugia ou você me invadiria como um exército que invade um país e toma posse como se fosse seu. E eu não podia. Não ainda. Não enquanto te fazia gostar de quem eu não era, enquanto vestia uma armadura de ferro para não te deixar chegar tão perto.
Fiquei esperando você corresponder, e quando aconteceu, eu não soube o que fazer com o amor que crescia em mim e eu não sabia identificar o início e o fim. E fugi, na esperança de não te ferir com a bomba-relógio que eu era.
Me perdoe por isso.
Júlio Hermann
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Até onde o amor alcança
“UM DIA VAI SER AMOR A PONTO DE O CORAÇÃO NÃO PRECISAR CONVENCER O CÉREBRO DISSO.
ATÉ LÁ EU ARGUMENTO”.
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Crédito da foto: aqui.
Definitivamente era o texto que eu precisava para encerrar minha noite. Obrigada, Júlio 🙂
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