(Leia este texto ao som de O peso do meu coração)

A vida é sobre levantar e seguir em frente, não é?
Foi sobre isso que você me contou um dia.
Eu demorei longas horas para digerir.
Como assim a vida é sobre isso?
A gente não espera a queda.
Não quer a queda.
Não acha que vai cair.

Mas você tinha razão.
Que bom que tinha.

Eu precisava catar os cacos do chão,
mudar aos poucos,
me virar do avesso,
acender uma lâmpada,
colocar de ponta-cabeça as partes da minha vida que careciam de reparos.
Os meus defeitos consumiam
a mim e aos outros – o que era pior.

Você me dizia que não adiantava continuar cambaleando
se eu não sabia exatamente para onde estava indo.
Parar um pouco talvez fizesse bem.
Deixar de flertar com um futuro se eu estava querendo outro.
Dar um jeito de clarear todas as coisas, para evitar confusões.
Trazer os defeitos meus para os holofotes, até te coragem de lidar com eles.

Eu amei muitas vezes nesse processo.
Senti raiva em outras.
Lutei por felicidades que preenchiam os meus dias, mas não me pertenciam.
Tentei me convencer de que tinha ficado para trás, que não importava tanto, que era possível seguir em frente sem considerar muito o que passou.
Mas a vida era sobre cair, levantar e recolher os cacos, não era?

Eu habitei corpos que não eram meus.
Abracei corações que não me queriam, porque ainda que me amassem, nunca tinham cravado os dois pés em mim.
Amei tão intensamente que parecia que não haveria dia seguinte.
E às vezes não há mesmo.

Eu precisava ter calma e olhar bem o caminho.

Você foi embora e eu cai.
Era sobre levantar e seguir em frente que você me dizia, não era?
Tentei viver o meu processo.
Foi doloroso.

A gente não espera a queda.
Não quer a queda.
Não acha que vai cair.
Mas cai.
E levanta mais forte no fim.

Júlio Hermann