A faxina que eu fiz no meu peito

(Leia este texto ao som de When You Say Nothing at All)

A faxina que eu fiz no meu peito serviu para escancarar as janelas. Eu precisava deixar passar um pouco de ar para que o sangue em mim não coagulasse. Oxigênio em contato direto com a pele, entende? Para resgatar o que havia se perdido de vida.

Eu tentei disfarçar a saudade pendurada nas paredes enquanto ainda balançava na decisão de excluir de mim o que havia permanecido desde a última vez. Depois de uns três ou quatro amores mal-sucedidos (ainda que tenham dado certo durante uma eternidade-limitada), eu precisava revirar os móveis. Mexer o sofá de lugar, remover a poeira que havia ficado embaixo. Passar a vassoura nos cantos que minha visão não era capaz de alcançar.

Para – ao menos – deixar um cheiro novo de lavanda no ar, sabe?

O processo seria o primeiro passo para que pudesse me olhar no espelho reconhecendo as qualidades do meu intrínseco outra vez. De vez em quando, depois de ter mudado tanto, nós estranhamos nosso próprio reflexo. Mas, calma lá, o problema não está em mudar. O que nós precisamos é apenas entender a mudança para usar isso em favor de um mundo melhor – mesmo que seja o nosso.

Eu precisava limpar as cicatrizes, tirar as marcas de sujeira das paredes, passar um pano úmido no chão para remover o grupe que eu mesmo havia deixado na fossa anterior. Para me salvar do meu próprio caos, entende?

O mais bonito das faxinas é que elas nos permitem encontrar em nós coisas importantes que nós acabamos deixando guardadas em gavetas no passar do tempo – além de tirar o pó que ficou, claro.

Deixei as janelas abertas para entrar ar, sim, mas também quem quiser daqui por diante. O ambiente está mais apresentável que antes. Estou mais maduro também.

Júlio Hermann

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