(Leia este texto ao som de Não Olha Assim Pra Mim)
Os carros que passam apressados pela rodovia que corta a rua da minha casa falam de você. O barulho do vento, o movimento das árvores, o modo com que as pessoas olham para os dois lados para se certificar de que naquele exato segundo de sossego é seguro atravessar até o outro lado da faixa…
Os móveis do meu quarto, que são os mesmos há oito anos e nunca te viram passar por aí, falam de ti. Eu me dei conta disso na rara simetria que havia na pilha de roupas depois da última limpeza da casa. Lembro de ter colocado em caixas o que precisava ir embora; no seu devido lugar o que deveria permanecer.
E você ficou.
No caminho do meu apartamento até o trabalho, que eu repito religiosamente todos os dias úteis, existe um pouco daquela poesia que você me disse haver na vida quando a gente se permite olhar a existência com um pouco mais de calma. Eu, que costumo colocar o pé no acelerador e acabo sendo multado pelo excesso de velocidade em tudo, aprendi a perceber o que de belo existia na espera.
Aprendi a te ver correndo entre os detalhes da vida sem perceber em mim os movimentos que a tua existência passou a gerar na minha. Meus quadros abstratos na sala de estar passaram a ganhar um pouco mais de forma com o insistir do meu olhar te procurando neles. Os carros estacionados rente às calçadas pareciam ter sido feitos para estarem ali para sempre desde que eu entendi que o mundo ideal talvez pudesse ser assim…
Quando a gente passa a gostar de alguém, lá pelas tantas, o mundo ao nosso redor acusa as lembranças do que sentimos, já percebeu?
A respiração oscila entre raras calmarias e arritmias bravas, os dedos das mãos acusam o nervosismo pelos pequenos surtos, o discurso que sai dos nossos lábios se torna mais pacifista.
O mundo não é o mesmo. Nem os carros. Nem a rodovia e as pessoas que a atravessam às pressas. Tampouco os móveis do quarto, os quadros da sala e o que habita o universo físico ao redor do corpo…
Não com você aqui.
É bem mais bonito.
Júlio Hermann
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