(Leia este texto ao som de Love Will Set You Free)
Eu teria voltado outras quatro vezes a música no celular se o meu peito não fosse acelerar implorando para ter um pouco mais de calma. Senti medo de você cansar – da música e de mim – enquanto os meus pés se esticavam na sua direção e eu não sabia exatamente o que fazer com as mãos.
Eu nunca sei exatamente o que fazer. Não contigo.
Pensar sobre isso me faz recordar os jantares que eu comprei sozinho enquanto estava longe de casa e não entendia que alguma coisa me segurava em mim. Você precisava ver o rosto estático daquela gente, como se as pessoas à volta delas fossem um amontoado de carne e osso, sem coração. Eu queria gritar que “existe amor por aí, caramba, olha em volta”. Mas como eu poderia me fazer entender se a maior cidade do Brasil nunca viu você sorrir?
Eu passei a sentir alguma coisa estranha naqueles dias. Saia com uma blusa a mais enfiada sem modos dentro da mochila para o caso de o frio aparecer. Resolvia que era mais útil levar os documentos todos comigo para o caso de alguma coisa acontecer. Entendia que precisava olhar em volta o tempo inteiro até me sentir seguro para baixar os olhos. Não era a mesma coisa que contigo.
E você sorria.
Nas horas seguintes à última vez que te vi, fiquei confabulando com as paredes para ver se entendia de onde eu havia tirado tanta coragem para te contar tudo. O meu receio era de que você sentisse medo dos meus fantasmas ou do fato de eu não saber como vai ser o futuro. Mas a gente nunca sabe, né? Se um Anjo me contasse sobre a volta que meu mundo daria antes de parar na frente da sua porta outra vez, eu teria rido e pedido para que não brincasse assim com a forma como as coisas se movem por aqui.
Eu senti o meu peito coçar porque nunca soube exatamente como pedir calma a ele em horas como essa. Mas está tudo bem. Você entenderia se tivesse visto o próprio rosto a sorrir; teria decifrado o fim de cada uma das guerras do mundo se percebesse no próprio peito o amor que tem mantido o planeta de pé em tempos como o nosso.
E eu teria sentido menos medo se lembrasse de te dizer que o mundo é um abrigo mais bonito toda vez que te vê por aí.
Júlio Hermann
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Até onde o amor alcança
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