O amanhã talvez não exista

(Leia este texto ao som de Trem-Bala)

Em um sopro de silêncio repentino, tudo passa a se tornar um nada. A existência começa a se moldar em algo escuro aos poucos, sem muito o que fazer. Os nossos gritos parecem inaudíveis, os movimentos dos nossos braços se tornam inúteis e o respirar de nossos pulmões ficam pesados. É o momento derradeiro.

Como temos vivido nossas vidas antes de o fim chegar?

Eu parei para pensar nisso depois de todas as coisas que aconteceram no Brasil nas últimas semanas. Fazia um tempo que nós não parávamos para pensar em como tudo é perecível, né? O barulho das ruas, a inquietação dos nossos corações com o que nem sempre é tão importante assim e a necessidade burra de precisar correr contra o relógio o tempo inteiro às vezes cega a gente. Há quantos dias não tiramos um momento para ficar em silêncio conosco mesmo?

Eu vivo a maioria dos meus dias em uma correria louca que me priva de mim. Corro de um lado para o outro, me comprometo a fazer mais coisas do que realmente sou capaz, acabo deixando de passar mais tempo com as pessoas que realmente amo porque algumas demandas “precisam” – entre aspas mesmo – ser resolvidas para ontem.

Para quê?

Por mais cruel e duro que seja pensar nisso, o amanhã não existe. Se tudo virar pó hoje, logo após o término deste texto, como terá sido a vida que insistimos viver até aqui?

Me olhar no espelho e responder a essa questão me faz querer colocar o amor como prioridade na minha vida, sem nada para dividir esse posto. Como um amigo sempre diz, prioridade não tem plural. É preciso definir uma e colocar todo o esforço nela.

A minha meta daqui para frente é gastar a maior quantidade de tempo possível com quem amo, ainda que nem sempre isso seja possível. Tanto faz se assistindo a um filme qualquer na Netflix ou visitando uma exposição que eu nunca colocaria na minha lista de interesses, o importante mesmo é a companhia que abraçamos enquanto ainda estamos aqui, vivos.

Abraçar quem amo antes de dormir, ligar para quem merece um pouco mais de mim, colocar cada pequeno afeto em seu devido lugar sem preocupação alguma com a localização dos ponteiros no meu relógio… Das coisas que passam, o tempo talvez seja a que menos importa.

No fim da vida, Deus pedirá contas do amor que vivemos aqui. Nós cobraremos a mesma coisa de nós mesmos também.

Júlio Hermann

Esse texto é minha singela homenagem a todos aqueles que sofreram com as últimas tragédias vividas no Brasil. Meu coração sentiu a dor com cada um de vocês.
Ao mesmo tempo, é um apelo a nós, para que vivamos com amor enquanto ainda há tempo…

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*Meu primeiro livro já está à venda em todo o Brasil. Se você gostou desse texto, tem grandes chances de se identificar com ele.

Tudo que acontece aqui dentro – cartas de amor nunca rasgadas

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“Você lê aquilo que sempre quis dizer a alguém – ou a si mesmo -, mas que nunca teve coragem de tirar de dentro de si.” – Daniel Bovolento, autor de Por onde andam as pessoas interessantes? e Depois do fim.
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