(Leia este texto ao som de Photograph)
Talvez ele chegue sem avisar em uma noite de quinta-feira no shopping, olhando para trás e te encontrando rindo da briga entre a atendente do cinema e o rapaz que está na frente da fila. Ele vai rir também, porque é mais humano do que parece aos olhos. Te dirá aos risos que as pessoas precisam de um pouco mais de calma e te fará baixar os olhos de vergonha.
Você vai ver que nesse dia o silêncio não vai fazer um som horrível. A sensação vai ser uma calmaria que se embrenha peito à dentro, como se não houvesse nada para se preocupar ao redor. O coração, em uma contradição aguda, vai inquietar-se ao mesmo tempo, mas não vai sentir necessidade de reclamar de nada. É provável que você perceba.
Nas semanas seguintes, perceberá que ele talvez nunca aprenda a tocar violão nem se interesse por alta arte como costuma acontecer nos filmes. Vai ser só um rapaz do lado oposto da cidade, que prefere rabiscar alguns versos no guardanapo do restaurante, ainda que não domine completamente o português escrito. Os erros pequenos nem vão te incomodar tanto assim, você verá.
Vai te chamar para caminhar no Ibirapuera ou em qualquer parque perto de casa, porque a grana costuma ficar curta no fim do mês. Vai dizer que é melhor trocar o japa por pizza para não precisar corar ao admitir que gostaria de te oferecer algo melhor no terceiro mês desde que vocês se conheceram, mas não haverá problema nenhum nisso.
Nesse dia, nesse exato dia, você deixará de lado a espera por um lorde inglês para entender que o amor também habita a realidade de gente mortal feito nós. Gente de carne, osso e coração que se abala com os problemas do dia a dia.
Vai perceber que ele é mais estourado do que deveria em alguns casos ou mais calmo que a maioria dos caras por aí, mas que os extremos dele não importam tanto assim. Você também tem os teus. O importante é que vocês se respeitem.
Perceberá, ao contrário do que leu dezenas de vezes por aí, que o amor nem sempre chega sem avisar. Chega fazendo estrondo mesmo, pinicando dentro do peito, ainda que você nunca tenha visto a tal pessoa antes. E costuma marcar a existência com um antes de um depois, ainda que um dia venha a acabar.
Júlio Hermann
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Tudo que acontece aqui dentro – cartas de amor nunca rasgadas
“Você lê aquilo que sempre quis dizer a alguém – ou a si mesmo -, mas que nunca teve coragem de tirar de dentro de si.” – Daniel Bovolento, autor de Por onde andam as pessoas interessantes? e Depois do fim.
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