(Leia este texto ao som de Everglow)
Você não precisa se culpar pelo mundo torto que existe ao redor do teu pequeno corpo, que apesar do tamanho é maior do que qualquer realidade que se apresenta na tua frente. Nem precisa se cobrar tanto por ainda não ter chegado onde queria, não ter ido tão longe quanto esperava nem por não ter conseguido fazer um mochilão pela Europa nesse verão.
Teu coração não merece ser responsabilizado por ainda não ter aprendido a amar direito, ou por ter amado tantas vezes e ter deixado de sentir tantas vezes quanto, aos poucos, em noites de segunda-feira em que a dor da vida insistiu ser mais latente que o tanto de coisas boas que aconteceram contigo nos últimos tempos.
Essas coisas acontecem naturalmente, ainda que doam.
Tua mente, tão frágil e forte ao mesmo tempo, não precisa carregar em si o peso de um universo inteiro se você sentir que as coisas não podem mais ser como estão sendo. Amar às vezes também é ir embora, sabia? Ainda que machuque, rasgue a pele, faça do coração um amontoado de trapos empilhados em uma sala escura, é preciso liberdade. Para nós e para os outros. Para o bem de ambos.
O passado, coitado, esgotado inteiro lá atrás, não precisa se fazer presente. Que fiquem e andem contigo as lições que precisam andar, para que nada do que aconteceu até aqui jogue na tua cara que talvez você seja uma pessoa ruim e sem salvação. Eu aprendi com o tempo que importa mais quem somos hoje e quem seremos amanhã do que quem fomos um dia, vai por mim.
O segredo é que não nos conformemos em sermos sempre os mesmos.
Dia desses dias um conhecido escreveu que nossa história não deve ser marcada pela quantidade de vezes que caímos, sofremos, doemos internamente… mas pela quantidade de vezes que ultrapassamos esses processos conseguindo respirar e nos tornando mais completos do que antes. Mais receosos e exigentes, sim, mas não menos humanos.
As tragédias, desvios, maldades e qualquer coisa ruim que rodeia as nossas vidas e tudo que existe à nossa volta não é sempre culpa nossa, ainda que nossas mentes traiçoeiras tentem nos dizer o contrário. Mas o amor que pode brotar disso tudo, esse sim tem causa exclusivamente em nós.
Somos jovens. Temos tempo para sonhar e para realizar, ainda que um passo de cada vez. Não se culpe por ainda estar no início do processo.
Talvez o segredo da vida esteja no nosso esforço de tentar sermos mais caridosos conosco mesmo e com aqueles que estão ao nosso redor. Temos nossas dores, assim como os outros carregam suas tragédias também.
Uma hora chegaremos lá.
Enxergar amor em nós talvez seja tudo o que o mundo precisa para se inspirar e ser pouco melhor também. Nós fazemos parte desse processo.
Júlio Hermann
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*Meu primeiro livro já está à venda em todo o Brasil. Se você gostou desse texto, tem grandes chances de se identificar com ele.
Tudo que acontece aqui dentro – cartas de amor nunca rasgadas
“Você lê aquilo que sempre quis dizer a alguém – ou a si mesmo -, mas que nunca teve coragem de tirar de dentro de si.” – Daniel Bovolento, autor de Por onde andam as pessoas interessantes? e Depois do fim.
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Acho que eu precisava ler isso. Às vezes a gente se culpa por ainda não ter chegado “lá” e acabamos não curtindo o caminho. Será que “lá” é mesmo tão legal? Será que estamos preparados para ali estar? Costumo achar que o tempo tem seu próprio jeito de deixar as coisas acontecerem. Como uma plantinha que precisa de espaço para crescer, acredito que a gente também precise do tempo pra amadurecer. Lindo texto teu!
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