De vez em quando o silêncio é necessário

(Leia este texto ao som de How to Save a Life)

De vez em quando eu me pego fugindo do silêncio. Geralmente acontece quando preciso tomar alguma decisão importante ou minha mente pede para pensar em algo atípico que aconteceu na minha vida. O motivo é um só: a ausência de som costuma trazer respostas nuas e cruas às nossas existências barulhentas e cheias de desculpas para acalmar tempestades.

Então eu corro para os fones e às músicas altas.

A ilusão que me cerca nesses momentos tende a ser passageira. Eu percebi isso no semestre passado, enquanto ia para a faculdade e nem a melodia alta ecoando na minha mente foi capaz de distrair a minha cabeça de tudo o que estava acontecendo ao meu redor.

Fugir de si mesmo é um ato que beira a falta de responsabilidade, já percebeu? Mas saber disso nem sempre é o impulso necessário para sermos corajosos.

Acontece nos nossos conflitos particulares e nos que envolvem outras pessoas. Se eu sinto dificuldades de ficar em silêncio comigo quando as coisas não vão necessariamente bem, o mesmo se repete nas relações humanas que me cercam. Mais cômodo é arrastar a convivência num diálogo incomodo do que decretar fim em uma sinceridade que atinge feito bala nossas existências, não é? Pena que não costumamos analisar as consequências a longo prazo.

A dificuldade de silenciar me trouxe muitas consequências dolorosas ao longo da vida. Se eu tivesse tirado o mínimo tempo para pensar no que estava fazendo, apesar da dor que qualquer movimento me causaria, provavelmente eu teria naufragado uma dúzia de vezes menos até aqui. Sorte que a minha cabeça dura deu um jeito de tirar uma lição no fim de tudo.

Permanecer quieto buscando respostas geralmente me faz passar por momentos pesados de ressaca quando o processo termina. Não importa se durou só alguns segundos ou se foram três dias de reclusão, a sensação que eu tenho é a de quem acorda depois de uma noite de open bar em algum bar da Augusta. Sorte que domingos em casa servem justamente para livrar a gente desses fardos.

Eu sempre preguei por aí que amigos de verdade preferem dizer a verdade – para o nosso bem – do que passar a mão em nossas cabeças dizendo que as coisas são assim mesmo. Talvez, tudo o que eu precise é ser um pouco mais amigo de mim mesmo para conseguir ser sincero ao me olhar no espelho. Para isso, no entanto, eu preciso me aquietar um pouco.

Eu evito o silêncio porque tenho medo de precisar fugir da realidade que me cerca para entrar fundo em mim mesmo, mesmo que instantes como esse passem a ser necessários com o correr dos anos.

Ainda que doam, verdades nuas e cruas costumam fazer seres humanos mais sinceros e com uma maior capacidade de amar – a si e aos outros.

Eu sigo tentando…

Júlio Hermann

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