O que você explodiu em mim

(Leia este texto ao som de Dança pra mim)

Eu te amei pela primeira vez em agosto, antes de o primeiro frio do inverno chegar com intensidade. Foi em um saguão de aeroporto, acho, enquanto eu arrastava a mala querendo voltar para casa. Que casa? – me perguntei ali, mas meu peito não soube o endereço certo a se responder.

A segunda vez foi em outubro, quando meu rosto ainda não tinha identificado o teu pelo nome em meio à multidão. Talvez fosse a terceira ou quarta vez que nos víamos ali, parados. Você tinha alguma coisa prestes a explodir dentro si, não tinha? Eu percebi pelo modo com que mexia as pernas de um lado para o outro em uma velocidade muito maior que a do teu piscar lento. Era semelhante ao meu.

Duas semanas depois eu preferi não te avisar que estaria na capital. Medo de reprovação, eu acho. Uma dor estranha e precipitada ao imaginar que talvez não fosse possível sentir as coisas caminhando neste sentido outra vez.

Não adiantou tanto assim.

Novembro acabou sendo casa dos dias mais turbulentos da minha vida. Eu nunca soube exatamente se iria ou ficaria aqui, estagnado enquanto observava o mundo à minha volta caminhar em direção ao futuro que eu jurava também ir.

Você permaneceu imune a tudo, sem saber bulhufas do que acontecia em mim. Melhor assim, disse a mim mesmo – melhor assim.

Março seguinte, se bem lembro, você me agradeceu por ter sido gentil contigo. Fazia alguns meses que eu já rezava por ti, ainda que eu não entendesse exatamente o que revirava em mim em toda vez que ouvia você suspirar.

Onde foi que você me encontrou por aí? – eu perguntava pra mim.
Quando foi que eu te encontrei em mim?

Eu queria te contar tudo, tudo mesmo, e tentei de quatro modos distintos entre abril e maio, mas me segurei porque sabia que eu mesmo ficaria assustado se fosse comigo.

Como se despeja sentimento no outro sem parecer estar indo rápido demais?

E eu te amei de uma dezena de formas diferentes nas semanas seguintes, ainda que com medo, tanto pelos retratos como pelo modo com que você lia a vida nos meus olhos.

Acabou sendo em julho que as estrelas todas se acenderam sobre a minha cabeça e o teu jeito explodiu em luz o que gritava em mim. Eu ainda não identificava o que estava acontecendo, mas agradeci aos céus por encontrar teu jeito marcado em algum canto do meu peito.

Quem sabe um dia eu te conte sobre isso.

Júlio Hermann

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