(Leia este texto ao som de Ainda lembro)
Eu parei de reler as nossas conversas depois de três semanas. Não fazia sentido para mim ficar revisando os traços que desenhavam os nossos rostos juntos se isso não servisse como um analgésico para as dores que eu ainda sentia.
O fim dói absurdamente nos primeiros meses. Mas depende de combustível para continuar doendo nos outros, já se deu conta?
Eu sim. Quando a ficha caiu dentro da minha cabeça, eu precisei doutrinar minha própria memória para não ficar revisitando mentalmente os lugares que eram só nossos. O banco de pedra para o qual íamos tomar chimarrão e o japonês que abrigava nossos jantares de domingo voltaram a ser uma praça e um restaurante qualquer. Precisei passar algumas vezes em frente a cada um deles para ter certeza do esquecimento. O processo é lento e muitas vezes remexe a ferida.
Esquecer alguém no passado parece cruel demais para a minha cabeça que tantas vezes se comporta de uma maneira quixotesca, mas acontece.
O que eu fui capaz de concluir na fraqueza do meu coração é que a pessoa que você é nunca vai ser apagada da minha vida. No entanto, eu precisei esquecer quem você era para mim lá atrás para poder seguir em frente. De vez em quando, talvez, só é necessário trocar o lugar das pessoas na nossa memória. Foi isso o que eu fiz com você.
Com o passar dos dias, as coisas voltaram a ser mais naturais. Eu passei a visitar menos o passado porque era mais seguro para nós dois. Assim, eu tinha certeza que não cairia na tentação de te chamar de volta para saber como as coisas estão. Afinal de contas, uma hora elas se acalmariam, para você e para mim.
O fim é doloroso nos primeiros dias, mas passa a ajudar a gente a crescer depois de um tempo. Permitir-se evoluir com ele é que é difícil. Para que isso seja possível, é necessário colocar os dois pés no chão e dar um jeito para que a mente e o coração voltem a dialogar para o bem comum dos dois.
No fim das contas, aprendemos a amar a pessoa de um jeito novo depois que a dor começa a diminuir. Foi assim com o que eu sinto por você.
Júlio Hermann
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*Meu primeiro livro já está à venda em todo o Brasil. Se você gostou desse texto, tem grandes chances de se identificar com ele.
Tudo que acontece aqui dentro – cartas de amor nunca rasgadas
“Você lê aquilo que sempre quis dizer a alguém – ou a si mesmo -, mas que nunca teve coragem de tirar de dentro de si.” – Daniel Bovolento, autor de Por onde andam as pessoas interessantes? e Depois do fim.
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