(Leia este texto ao som de Alexandria)
Eu sempre gostei de observar o modo como as coisas acontecem. Com as pessoas, com as cidades, com os fenômenos que sobem ao topo e descem à terra depois de um tempo. O motivo é uma ânsia por entender como os detalhes funcionam do lado de fora. A vontade de ter o mundo à disposição, pelo menos dentro da cabeça, sabe?
No entanto, eu sempre acabo esbarrando comigo mesmo nas coisas que observo.
Voltando de São Paulo na noite passada, depois de um dos fins de semanas mais lindos e cansativos da minha vida, me peguei de boca aberta olhando para o lado de fora do avião. No primeiro instante em que meus olhos fitaram a escuridão do outro lado da janela eu bufei um pouco. Queria logo aterrizar no aeroporto para chegar em casa e me atirar na cama. Permaneci longos minutos brigando com minha própria mente até entender que eu não conseguiria dormir ali, raramente consigo.
Sorte a minha.
Eu tenho o costume de olhar para baixo para ver a pequenez das cidades quando eu estou em aeronaves. Mantenho sempre as retinas voltadas para baixo, tentando identificar a cidade que estou sobrevoando. O mesmo acontece quando estou em terra firme: olho o chão o tempo inteiro para não pisar nas faixas divisórias das calçadas, só para ter certeza que não estou andando errado.
Para quê?
O excesso de cansaço fez os meus olhos não reconhecerem o modo com que minha mente costuma agir. Então eu permaneci ali, olhando reto na escuridão. Com o passar dos segundos, minha cabeça começou a desfocar da luz das turbinas para focar no horizonte e contemplar uma infinidade absurda de estrelas. Constelações conhecidas, galáxias que nunca havia conseguido enxergar. Muito mais longe do que costumo olhar…
Isso me lembrou uma homília que ouvi dia desses. Nós falamos pouco sobre o céu, já percebeu? Nos preocupamos demais com os problemas da terra e nos esquecemos de sonhar grande e buscar grande. Talvez seja assim que nossos corações trabalhem também.
O que eu entendi foi que de vez em quando nós precisamos desviar nossos olhares dos nossos próprios pés para enxergar o lugar bonito onde queremos chegar. Nada vale reconhecer onde os próprios pés estão se não sabemos dizer a eles onde queremos ir. No processo, decolar e aterrizar faz parte.
Entender o mundo é bonito, sim. Mas olhando para mais longe do que costumo direcionar meus olhos, eu consegui entender que talvez nossos próprios corações já estejam longe no céu enquanto nós insistimos cravar os dois pés no chão.
Por que não os perseguir, então?
Júlio Hermann
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Depois de um fim de semana incrível, eu ainda estarei na Bienal do Livro de SP te esperando com um abraço apertado nestes dias.
Horários:
7 de agosto (amanhã) – 15h, Salão de Ideias
Painel com Dani Bovolento, Matheus Rocha e Fred Elboni
11 de agosto – das 14h às 16h, estande da Faro Editorial
Sessão de Autógrafos
12 de agosto – das 16h às 18h, estande da Faro
Sessão de Autógrafos
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*Meu livro já está à venda em todo o Brasil. Se você gostou desse texto, tem grandes chances de se identificar com ele.
Tudo que acontece aqui dentro – cartas de amor nunca rasgadas
“Você lê aquilo que sempre quis dizer a alguém – ou a si mesmo -, mas que nunca teve coragem de tirar de dentro de si.” – Daniel Bovolento, autor de Por onde andam as pessoas interessantes? e Depois do fim.
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