(Leia este texto ao som de Never be alone)
Eu tenho me olhado mais no espelho nos últimos dias. É estranho pensar sobre isso porque geralmente a gente só contempla o próprio reflexo e não é capaz de ver nada além. Cabelo arrumado, olheiras quase imperceptíveis e a gola do casaco estrategicamente amassada para parecer um pouco descolado.
O caos do Brasil não é tão diferente assim do que habita dentro da gente, é?
O problema começa quando os nossos sentidos alcançam muito mais do que nosso olhar é capaz de enxergar. A mente começa a martelar, as pernas ficam inquietas, mas isso não é necessariamente ruim. Somente necessário, como algumas greves por aí. E bate dúvida, uma série absurda de questionamentos para saber se temos feito as coisas do modo certo.
Uma das prioridades da minha cabeça nos últimos tempos tem sido colocar minha própria vida em constante revisão. Eu acho que não existe muita coisa capaz de nos mover tanto quanto a vontade de ser melhor do que fomos antes. Nada de ambição burra para estar na frente dos outros, apenas um desejo absurdo de entregar algo mais sincero de nós para nós mesmos e para os outros. Mas isso traz suas misérias também.
Durante esse processo, eu resgatei uma série de monstros que estavam dormindo aqui dentro. Os acontecimentos da infância que eu fiz questão de apagar, as lembranças de quando as coisas pareciam muito maiores do que eu e por isso me devoravam. Precisei aprender a lidar com cada uma delas para conseguir dormir melhor. E me auto-perdoar pelos erros foi uma das coisas mais dolorosas nesse período.
Você sente que tudo é culpa sua, eu me senti assim. E, por mais doentio que isso pareça, essa é a coisa mais normal do mundo. O alívio vem quando percebemos que nem tudo dependia de nós e demos nosso melhor para tudo dar certo, eu te garanto.
A questão é que, assim como o Brasil, nós passamos por períodos de caos barulhentos dentro de nós mesmos. As nossas avenidas internas param, o nosso combustível base parece escasso. As coisas do lado de fora não são tão diferente quanto o que acontece do lado de dentro. Nada é feito para nos agradar como o reflexo no espelho.
Superar isso, no entanto, começa pelo nosso desejo de sermos melhores. Assim o país também mudará.
Júlio Hermann
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*Meu primeiro livro já está à venda em todo o Brasil. Se você gostou desse texto, tem grandes chances de se identificar com ele.
Tudo que acontece aqui dentro – cartas de amor nunca rasgadas
“Você lê aquilo que sempre quis dizer a alguém – ou a si mesmo -, mas que nunca teve coragem de tirar de dentro de si.” – Daniel Bovolento, autor de Por onde andam as pessoas interessantes? e Depois do fim.
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