(Leia este texto ao som de Broken)

Esse é só mais um momento daqueles em que eu não sei o que vai ser da minha vida. Sinto medo de olhar para trás, pavor de olhar para frente. Esperando, para ver onde as coisas podem dar por si próprias.

Noite passada eu quase senti o coração transbordando pela boca e caindo no canto da mesa. Como se nunca mais fosse bombear nada além do que já havia feito. Como se movesse-se em torno de si somente por conta da lembrança daquela manhã de sábado em que acordou com afeto. Apanhando, enquanto esquecia de bater.

Sem mudanças bruscas de velocidade, batendo lentamente sem aumentar a velocidade com que continuava a existir. Ali, parado. Sem muita coisa a se fazer. Transbordando em si mesmo, gota por gota. Marcando o chão em tons escuros que não vão ser fáceis de limpar. Esperando calmamente por uma chance de entender como as coisas vão ser.

Tudo isso sem sair do peito. Continuando a ser o que estava sendo desde que não coube mais em si, por falta de espaço, por medo de ocupar um lugar que não era dele. Rompendo-se com as próprias artérias e as próprias sustentações fajutas que já não ajudavam tanto assim.

Mas seguia. Batendo por conta das manhãs de segunda em que acordou ouvindo que o queriam bem. Por lembrar das tardes de quinta-feira em que acordava para o mundo lembrando que alguém se importava com ele, alguém se importa e o que quer ver bem. Das noites de domingo em que lembrou dos fins de semana anteriores, quase não se contendo de tanto amor e tanto carinho que conseguia carregar consigo.

E continua. Até agora. Sem saber direito o que vai ser de si depois de transbordar um pouco mais. Com um receio enorme de se localizar no mundo. Com medo de nunca mais voltar a habitar o peito que o serviu de abrigo por tanto tempo.

Esperando a poeira baixar e a percepção de tudo melhorar um pouco. Aguardando a hora de voltar a bater pelo o que o faz feliz.

Júlio Hermann

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