(Leia este texto ao som de Home)
Não foi perda de tempo quando você pediu para esperar você tomar banho. Eu permaneci ali, meia hora na sala de casa encarando o nada com um livro meia boca aberto no colo, esperando passar. Queria ter estado com você nos minutos antes, queria ter tocado no canto do teu rosto quando você me comentou sobre o monte de trabalhos que tem para entregar durante a semana. Mas eu só pude fechar os olhos.
Não é nem um pouco do jeito como eu andava acostumado. Geralmente durava uma noite gelada e úmida e chegava ao fim. Trancava a porta do quarto depois de entrar em casa, passava a chave no peito para não sair da minha zona de conforto. Não movia um dedo, não sentia a vontade necessária para viver qualquer coisa bonita. Mas beleza nunca foi o suficiente.
Enquanto eu esperava assim, sem muito o que fazer, a única coisa que passava pela minha cabeça era o modo com que você chegou. Não fez barulho, não chegou fazendo estrondo apesar de ter escancarado as minhas portas. Comentou de um filme que eu nunca vi, me contou sobre um modo diferente de ver o mundo por uma ótica interessante. Trocou meia dúzias de palavras antes de desaparecer antes de o dia amanhecer outra vez.
Eu nunca havia esperado tanto uma noite passar.
Você precisava ter visto, no dia seguinte, logo depois de escutar o celular apitar com o teu nome no outro lado da sala, eu só conseguia tentar raciocinar por onde as coisas haviam caminhado até chegar aqui. Lembrei dos meses antes, da noite de 2015 em que eu decidi que iria começar a escrever, das tardes de domingo em que eu passei em casa esperando alguma coisa acontecer. Mas nada. Migalha nenhuma de sentido.
Faltava o que me movia.
Faltava você.
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Não deu tempo de contar para os meus amigos, não tive oportunidade nenhuma de falar de você em casa ou no trabalho. Em um milésimo de segundo entre o ato e o estalo, eu só consegui perceber que as coisas talvez nunca mais voltassem a ser como foram até então.
Virei noites, madrugadas e mais madrugadas com os dois olhos escancarados encarando o nada. Mas não foi perda de tempo. Foi ganho. Mesmo que os meus ponteiros e os teus já não marquem as mesmas horas, eu só consegui me sentir feliz por encontrar alguém que permitisse me encontrar assim, com um olhar de bobo encarando o nada, esperando o tempo acelerar para grudar o meu corpo no teu.
Júlio Hermann