Enquanto você não cicatriza

(Leia este texto ao som de Não aprendi dizer adeus)

Você tem medo, não tem? Aquela sensação de repudio chata que te impede de tentar mais uma vez. O anseio completamente palpável que berra na frente dos olhos que você vai se ferir outra vez, não vai? Talvez dessa vez não. Talvez.

Percebi isso pelo tom da tua voz na última vez em que a gente conversou. Você tem se escondido do mundo. Não quer sair de casa, não sente vontade de explicar para os outros o que tem acontecido. Prefere acordar aos sustos no meio da noite ao invés de ir dormir pensando em alguma coisa boa que te faz feliz.

Me conta que evita dormir, evita sair de casa de peito aberto e com o rosto descoberto, que evita os filmes clichês meia-boca porque todos te lembram ele, não lembram? Evita só mais uma vez levar para frente o que tem criado raiz com alguém novo. Só para o peito não doer. Nem chega a ser culpa da pessoa, é só receio de se ferir.

Doía um pouco mais no início, não doía? Parecia que a pele começava a arder de dentro para fora, escancarando na superfície os medos do coração. Parecia que o som da buzina do lado de fora do quarto durante a madrugada era dele, por mais que ele não dirigisse e não tivesse costume de aparecer assim. Parecia que tudo ainda era real e a falta não passava de miragem projetada dentro do peito.

Parecia que nunca ia passar. Mas acaba acontecendo aos poucos.

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Enquanto isso, eu tô aqui. Juntando os cacos do mundo a tua volta, tentando moldar uma bugiganga bonita que te faça um pouco menos triste. Sem querer entender nada, não. Não importa tanto assim o que te trouxe até aqui, eu juro que consigo perceber no teu olhar uma vontade tímida de ser melhor para quem te quer bem. Um desejo magro que sabe que o amor é maior que a cicatriz, no fim das contas.

Você me diz que tá tudo certo, as crises não são tão recorrentes assim e que ainda não é hora. Tá tudo bem. Eu não tô aqui por mim, eu tô aqui por você. Por cada uma das angústias que invadem o teu peito logo antes de fechar os olhos e dormir.

Lembra disso quando se sentir sozinha.

Lembra de mim.

Lembra do amor e dessa fé cega e quase nula que vem de dentro quando você pensar em desistir.

E se demorar, eu vou estar aqui quando esse medo todo passar.

Júlio Hermann

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