Eu não quero fazer por fazer

(Leia este texto ao som de Talk Is Cheap)

Tenho passado por um momento complicado no meu processo criativo. Já faz uns longos meses que venho quebrando a cabeça para encontrar alguma coisa boa para contar no meu livro novo. Ideias que não passam da primeira página ou que não parecem originais. Um amontoado de aprendizado para passar adiante sem saber como. Tudo ainda estagnado na estaca zero.

Desde que eu terminei o meu primeiro livro, a única pergunta que martela na minha cabeça é sobre como tudo vai ser dessa vez. Talvez uma viagem pela Europa e uma lição de vida para contar. Talvez uns devaneios em meio a uma cidade caótica no interior de sei lá onde. Talvez um espaço-tempo que só exista dentro da minha cabeça, mas onde o amor vence sempre no fim. Talvez um pouco mais do que só uma lembrança insistente de que vale a pena amar.

Não encontrar o modo certo de transmitir aquilo o que eu quero tem me incomodado um pouco. O problema nem tem sido com a criatividade, porque se fosse, bem, esse texto provavelmente não chegaria a existir. O problema é comigo.

Escrevo com frequência, coloco os pingos nos ís que eu acho que precisam ser postos, ponho meu coração em textos que falam mais sobre mim do que minha própria boca. Mas quando sento de frente para uma página em branco e imagino o resultado impresso vagando por aí, parece que tudo evapora.

Eu poderia ter escrito um livro inteiro nesse intervalo de tempo, mas não teria coração. Isso foi o que mais me cutucou a ferida nesse período todo. Depois de um tempo a gente aprende que fazer as coisas por fazer não nos leva para onde devemos ir. Falta o pedaço humano, a parte do resultado que mostre nosso peito escancarado para quem quiser conhecer como a coisa toda funciona do lado de dentro.

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Mas a vida segue por enquanto. Quem sabe o que falta seja eu me permitir viver coisas novas enquanto espero o start acontecer. Quem sabe seja momento de parar e esperar um pouco, fazer penitência para sentir na pele que vale a pena se esforçar um pouco mais para fazer acontecer. Quem sabe amanhã eu acorde com tudo projetado aqui dentro, com uma ânsia chata de correr para o papel.

Uma hora acontece.

O que não pode acontecer é a gente oferecer pedaços de nós mesmos para os outros por oferecer.

Júlio Hermann

2 comentários sobre “Eu não quero fazer por fazer

  1. Sarah disse:

    “A vida é do coração. A vida só pode crescer através do coração. É no solo do coração que cresce o amor, que cresce a vida, que cresce a piedade. Tudo o que é belo, tudo o que é verdadeiramente valioso, tudo o que faz sentido, que é significativo, tem origem no coração. O coração é o seu centro, a cabeça é apenas a periferia. Viver na cabeça é viver na circunferência sem nunca se dar conta da beleza e dos tesouros do centro. Viver na periferia é estupidez…”
    Gisela Vallin

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