(Leia este texto ao som de Chasing Cars)
Se aparecesse. Assim. Do nada. Como quem não quer e não ambiciona muita coisa, só o suficiente. E sentasse no canto do sofá da sala. Com as pernas encolhidas e mãos no meio delas para não ocupar tanto espaço. Controlando a respiração para não fazer estardalhaço.
Esperasse um tempo antes soltar os músculos. O suficiente para você se acostumar e não se assustar com a presença e os braços abertos. Ainda no mesmo canto. Respirando manso, mesmo que o peito já não esteja calmo assim. Só para não transformar a vida em escola de samba de uma só vez. O tanto quanto for preciso para o coração se tornar brado retumbante aos poucos. E não se precipitar.
Depois, sim, talvez esticasse. As pernas na mesa de centro, os braços por cima das coxas e o tempo de estadia. Nem que fosse até a manhã seguinte. Nem que fosse até o filme terminar atrasando a rotina e fazendo perder a porcaria do voo de volta, porque uma hora a gente precisa voltar pra casa. Mas casa só é casa quando tem afeto.
Deixasse um pouco. De si. Logo antes de ir embora, embora prometesse voltar. Para repetir a dose. E o processo. Desde o corpo retraído até o fim dos créditos com a cabeça dormindo no peito do outro. Desde o susto explanado no verbo até a falta de fala que fica em toda vez que eu baixo os olhos para enxergar melhor.
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E não esquecesse. Nem do tanto de tempo que esperou para estar ali. Nem do quanto a gente consegue enxergar uma vida bonita de olhos fechados. E os fechasse. Sem vontade de abrir de novo e acordar. Só mantendo-o assim e mantendo-se ali.
Se parecesse. Assim. Sem mais nem menos. Que quero ficar mais um pouco. Só até ser suficiente. No canto do sofá da sala. Sem me importar tanto assim com a posição dos membros. Me importado mesmo com as conversas e os provérbios e os verbos e o tanto de ofegância que tem na respiração e o quanto alguém consegue ser encantador só por estar assim. Se bastando.
Júlio Hermann
GOSTEIII
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que lindo, meu Deus
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Esplêndido.
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