(Leia este texto ao som de On My Way Back Home)
Me olhou e disse que as coisas já não são como eram. Precisei vasculhar algumas vezes dentro do peito para ter certeza. Olhei em volta, reparei na forma como guarda a carteira dentro da bolsa e quase contei que tudo parecia igual demais. Pelo menos para mim. Pelo menos dentro do peito.
A única diferença agora é que as quartas-feiras de cinema não são as mesmas. Eu dou um jeito de aumentar as horas do expediente, ela deve ter uma série de coisas da faculdade para serem postas em dia. Tudo para não precisar encarar o escuro sozinhos. A verdade é que não tenho tanta vontade assim de parar em casa. Isso começou depois daquele sábado de fevereiro, no fim do mês, quando ela saiu para caminhar à tarde e não voltou a mesma.
Fiquei uns dias esperando, passei noites e mais noites sentado em uma cadeira de praia na varanda enquanto o tempo passava. Olhava as estrelas porque certa feita, veja bem, certa feita ela disse que dava pra enxergar algum destino lá. Chega a ser engraçado o modo com que guardamos o jeito alheio depois de um tempo.
Demorou oito meses para aparecer outra vez. Cento e vinte dias mais para contar sobre os meses em que fingiu nunca ter pisado aqui. Disse que alguma coisa cutucava fundo na ferida quando sentava na beira da cama e pegava as fotografias. Lembrava dos meus pais, lembrava do domingo de sol em que a gente andou sete quilômetros para não precisar ir na academia no dia seguinte.
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Guardei as memórias depois daquele dia. Deixei quieto num canto o desejo que eu tive de pegar a estrada no fim de semana seguinte, só para ver se a gente conseguia ver o amanhecer na beira da praia. Não consegui deixar tudo em dia no trabalho para conseguir sair mais cedo, esqueci de perguntar se ela teria tempo de ver antes de a noite cair também.
Mas voltou. Quase um ano depois, com a pele um pouco mais escura do que a que havia saído naquele sábado depois do carnaval. Deve ter pego sol, deve ter mudado uma série de costumes e modos e jeitos de ser que eu não sei dizer se são os mesmos, mas meus olhos reconhecem bem. Como se tudo fosse igual. Como se o que eu sinto não tivesse mudado também.
Júlio Hermann