De vez em quando a distância aproxima a gente

(Leia este texto ao som de Trem-bala)

Mãos formigando e uma tremedeira estranha. Pernas inquietas independente do tanto de força que coloque para parar. Peito implodindo e ameaçando sair pela boca. Suor não programado anunciando algo que não foi feito para caber aqui dentro. Olhos baixos e carregados, quase não dá para ver dois palmos na frente.

Não aprendi a lidar com despedidas.

É assim em toda vez que vejo alguém que zelo saindo do alcance dos meus olhos. Fecho-os para não precisar demonstrar fraqueza. Aperto forte o abraço de quem não vai mais fazer parte da minha rotina. Tento colocar um ponto novo que divida as coisas em antes e depois, procurando encontrar um jeito de fazer a vida não mudar tanto assim com a distância. Mas as coisas não são assim.

Aconteceu exatamente assim depois que um amigo mudou-se. Meu coração quase pagou multa de velocidade por acelerar demais quando virei as costas pela última vez, mas colocou o pé no freio e parou num súbito golpe que durou alguns segundos. Não imaginava a minha vida sem a companhia e os conselhos de quem sabia e havia vivido muito mais do que eu.

Quando aconteceu, pensei que as coisas nunca voltariam a ser como foram um dia. Como se o futuro resolvesse colocar uma pedra grande em cima de toda confiança construída e eu teria encontrar um novo ombro caso precisasse agora. Mas não foi assim.

Diferente do que pensei, hoje nos falamos mais. Bate preocupação, vontade de falar da vida, um carinho que existia e não se manifestava tanto assim antes. Ligo pra saber da rotina, conto sobre o livro novo. Pergunto como vão as coisas e se vai passar aqui na semana que vem. Parece mais perto, mesmo estando um bocado mais longe.

De vez em quando, lá pelas tantas, a distância serve para que aprendamos a olhar com outros olhos o que está em nossa frente e nem sempre enxergamos. Numa simples contradição do universo, aprendemos a trazer mais para perto o que precisou ir para longe.

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Como esse mesmo amigo diz, amor e sofrimento andam juntos o tempo inteiro. Que amemos, mesmo que tenhamos que carregar esse peso conosco. No fim das contas, a dor serve para que entendamos o tamanho do significado das passagens em nossas vidas.

Ainda não aprendi a lidar com despedidas, mas tenho dado um jeito de fazer ela doer menos.

Mãos formigando e uma mensagem para saber se tudo vai bem. Pernas inquietas, loucas para pegar a estrada a matar essa sensação chata. Peito explodindo em uma felicidade bonita por saber que as coisas vão bem por lá. Um sorriso não programado anunciando o tamanho do carinho que ficou depois da mudança. Olhos brilhando como da outra vez, mas dessa vez é de alegria por saber que alguém zela por mim do lado de lá.

Júlio Hermann

*Em homenagem ao padre Filipe Mirapalheta e a todos aqueles que não deixam a distância abalar o que foi construído.

2 comentários sobre “De vez em quando a distância aproxima a gente

  1. Mary Fernandes disse:

    Sei bem como é a dor dá partida,de alguém especial para nós. Mais pior ainda é a dor do abodono,sei bem como é essa sensação. Mas gostei muito desse texto,você é um ótimo escrito.. Tenho uma grande admiração por você

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