Eu não preciso do que ficou lá atrás

(Leia este texto ao som de Human)

Era quatro da manhã quando me pus a escrever. Tinha recém largado a xícara vazia de café dentro da pia e voltado para o quarto. Computador no colo, livro na cabeceira, fone no ouvido. Não conseguia pensar em uma maneira de iniciar esse texto.

Ultimamente tenho sentido um pouco de dificuldade em escrever sobre você. Parece que alguém apareceu no meio da noite, invadiu meu quarto, arrancou todas as memórias que eu guardava aqui dentro e me deixou sem registros. Preciso olhar as fotografias para relembrar, preciso revisitar os teus perfis para ver se ainda percebo alguma coisa cutucar aqui dentro. Preciso ver se ainda guardo a tua foto na carteira depois que a limpei pela última vez. Não adianta muito.

O tempo é um bichinho amigo que arranca da gente partes que não conseguiremos levar para frente. Chega sem avisar e leva pedaços de nós que cultivamos com tanto carinho, mas já não servem mais. Não pergunta endereço, não liga muito se a lembrança é daquela quarta-feira em que descobrimos realmente o que queríamos para a vida e se a pessoa tem alguma influência nisso. Só se preocupa em passar e fazer as coisas passarem para nós também.

Demorei uns meses para entender desde a última vez, mas faz um tempo que tudo parece claro aqui dentro. Seria uma tortura vã guardar cada detalhe se não fosse para fazer bem. Seria covardia culpar o tempo quando ele só fez me ajudar. Seria uma falta de criatividade sem tamanha descrever você outra vez. Se fosse assim, seria melhor deixar as ideias quietas aqui dentro.

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Criatividade faz a gente voltar ao passado quando a perdemos de vista, só para ver se não a esquecemos por lá. Mas coisa nenhuma lá atrás vai ajustar as coisas agora.

Demorou uns minutos para eu conseguir escrever a primeira palavra. Mas depois dela, o processo inteiro ficou mais fácil. Demorou um tempo também para você passar, mas o mundo ganhou um pouco mais de sentido depois que aconteceu. Parece que agora ele pode ser inteiramente meu e só depende de mim para isso acontecer.

Era quatro e quinze quando eu encontrei meu quê criativo outra vez. Não estava lá atrás, como eu havia imaginado. Estava aqui dentro. Colado grudado preso agarrado a esse desejo que eu tenho de ser feliz todo.

Júlio Hermann

5 comentários sobre “Eu não preciso do que ficou lá atrás

  1. Jordane Raiz disse:

    amei teu texto e obrigada por me presentear com a indicação da música…eu amei as músicas desse cara! Seguindo vc a partir de hj rs…continue a jornada, escrever é compartilhar sobre a vida e gera-la tbm. grande abraço

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