Nunca parece suficiente

(Leia este texto ao som de Prisioneiro)

Dia desses um adjetivo atravessou os meus tímpanos como se fosse um grito. Eu tava conversando com um amigo quando ele bradou o quanto sentia orgulho da minha independência e da forma como eu ia tentando construir alguma coisa na frente dos meus olhos. Um projeto aqui, uma realização acolá. Tudo caminhando em passos constantes. Demorei a entender.

A gente cresce com uma ideia muito fechada do queremos para nós mesmos no futuro. Planejar um pouco aqui, colocar um outro item no fim da lista de objetivos, tentar enxergar alguma posição um pouco mais cômoda daqui a dez anos. Parece tudo um pouco distante demais até o exato momento em que a ficha cai e a gente percebe que não pode mais viver embaixo das asas de alguém.

Independência. Fiquei pensando se essa percepção externa vinha da vontade que eu tenho de depender apenas de mim mesmo para fazer as coisas darem certo ou se era pelo tanto de coisas que eu faço todos os dias para conseguir botar a cara à tapa. Empilho uma série de coisas em uma espécie de malabarismo complicado de segurar, tudo para orgulhar meus pais e alguma coisa aqui dentro. Nem sempre dá certo, mas uma porção de vezes dá, e eu ainda assim não me vejo fazendo nada demais.

Essa foi uma das coisas que mais fez sentido pra mim quando parei para refletir sobre o tal adjetivo: nunca parece suficiente. Nunca estamos fazendo nada demais. A gente pode estar ganhando o mundo e empilhando uma série de sonhos já realizados, mas nunca parece o bastante. Estranha mania essa que a gente tem de tentar abraçar o mundo o tempo inteiro. Estranha mania essa minha de achar que eu poderia ter feito muito mais até aqui.

O tal amigo completou dizendo que sentia orgulho do tanto de coisas que eu já fiz e do tanto de gente que eu carrego comigo. Isso só me fez pensar o quanto essa independência dependia de uma série gigante de outras coisas que me faziam colocar tudo isso em cheque outra vez.

A resposta que eu dei pra ele foi uma só: às vezes parece que as coisas não estão dando certo ou não estão saindo do lugar, mas eu continuo com a velha mania de colocar a cara à tapa. Às vezes o mundo bate nela, noutras a fotografia fica bonita.

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No fim das contas, eu só me sinto mais um no meio da multidão tentando fugir do reflexo de um velho espelho que não reflete as coisas que eu quero para a minha vida.

A tal independência que ele se refere talvez seja exatamente isso: esse desejo que nós temos de tentar ganhar o mundo com as próprias ações, por mais que nem sempre dê certo. A gente constrói alguma coisa aqui, começa a levantar outra parede ali. Até que o futuro se torna um pouco menos distante na frente dos nossos olhos e a gente percebe que as pessoas não vão fazer as coisas dar certo por nós.

Júlio Hermann

2 comentários sobre “Nunca parece suficiente

  1. Dothilde Pereira disse:

    Muito certo . Quando jovem, sonhamos ,Amadurecemos,realizamos (Final de faculdade)Formamos,continuamos sonhando.com um grande empreendimento.;Tudo certo. A velhice,chega. Olhamos para traz,pensamos:O que fiz ? Sozinha,nunca, Os pais foram alicerce na vida e sempre serão.

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