(Leia este texto ao som de Life Of The Party)
Quatro ou cinco dias depois de enxergar ela pela última vez, a única coisa que eu conseguia pensar era no desenho dos olhos dela. Na pele se enrugando logo ao lado da pupila em toda vez que ela sorria. Pensava nos tons de escuro e no tanto de vontade que eu tinha de me jogar com os dois pés colados naquele precipício.
Foi um pouco antes de reparar nos olhos que eu notei a forma com que ela apoiava as mãos sobre a mesa. Já nem lembrava mais em que espaço de mim cabia tanta saudade e tanta agonia antes dela. Em que canto esquecido do meu peito eu guardava aquela certeza inocentemente torturante de que talvez eu nunca voltasse a sorrir outra vez. Acho que fui mandando um pouco disso embora em cada gole de café que eu bebia enquanto olhava pra ela. Acho que fui me deixando para trás na esperança de ser um alguém novo e melhor também.
Lembro disso enquanto escrevo o nome dela no pulso pra me sentir um pouco mais seguro. Retoco a tinta da caneta depois de lavar as mãos só pra não me esquecer do tanto de sorrisos que eu tenho dado depois do dia em que eu esbarrei com ela na praça. Lembro de ter abraçado e erguido os dois pés dela do chão. Lembro de ter rodado umas duas ou três vezes, não fiquei tonto, não tenho enxergado nada fora do lugar desde que permiti que ela fizesse brotar alguma coisa bonita aqui dentro.
Fico pensando nessa saudade apressada que eu comecei a sentir antes mesmo de trazer ela pra morar em mim, antes mesmo de saber se ela aceitaria dividir um pouco das coisas que a gente vai ser daqui pra frente. Fico rabiscando no canto do guardanapo as marcas que o sorriso dela deixa logo no canto dos lábios. Fico desenhando a pinta do lado direito do peito e os traços que eu consigo registrar enquanto fecho os olhos e me lembro dela.
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Gravei no braço esquerdo um outro trecho pra não me esquecer que ela foi abrigo. Acho que ela entendeu a referência quando eu disse que me sentia seguro. Sorriu logo depois de ler as marcas no braço, baixou os olhos e me abraçou como se conseguisse sentir alguma coisa bonita também.
Fica passando uma série de filmes na minha cabeça, não consigo manter o foco no trabalho e em coisa nenhuma que não fale do abismo escuro que são os olhos dela. Sinto uma vontade oceânica de me atirar ali outra vez. Sinto uma vontade gigante de ver as rugas se formando logo ao lado da pupila e dos traços contornando o sorriso. Sinto alguma coisa fazer barulho aqui dentro de um jeito que eu nunca senti antes dela também.
Júlio Hermann
Ah, Julio! ❤
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Que delícia de texto!
Que delícia de sentimento!
Obrigada por me proporcionar tamanha sensibilidade.
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Seus textos são iguais a tiros e eu sou um alvo super fácil ♥
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Mais um texto que me enche de emoção e faz transbordar de amor!!! Obrigado por essa sensação, sempre!!!
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Q coisa mais linda! Tão gostoso de ler, parabéns!!
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Que texto lindo 😍
Imaginar as cenas é melhor ainda 💜
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Como ler isso e duvidar que ainda existe amor?
Que texto mais delicado e sensível Júlio ❤
Amei sim, claro ou com certeza?
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