(Leia este texto ao som de All I Want)
A única coisa que eu consigo enxergar no espelho são as olheiras de quem passou uma noite inteira em claro. Parece que o mundo inteiro acelerou os ponteiros e a madrugada passou depressa demais. Parece que eu não consegui desacelerar o universo também.
O que passa pela minha cabeça depois de tudo são os modos dela que eu fotografei. O desenho das mãos e o barulho das unhas batendo na superfície da mesa. O som da respiração e o traço se formando no lado de fora do sorriso. A forma com que os olhos dela se apequenam em toda vez que sorri.
Consigo lembrar das poças d’água que ainda não tiveram tempo de secar. Consigo lembrar dos desenhos que eu fiz logo depois de chegar em casa, os traços que eu desenhei no canto do guardanapo pra não me esquecer de lembrar disso amanhã de manhã. Do resto do gosto de café que permanece nos meus lábios até agora.
Fico pensando nas flores da praça e no livro que eu fiquei de ler da outra vez. Fico pensando na chuva que ameaçou cair e o barulho do vento mexendo as janelas enquanto eu tentava dormir. Fico pensando no intervalo de tempo que passou desde que eu me despedi dela na soleira da porta e no filme que a gente assistiu aos risos logo antes de o dia terminar.
Bate um dúvida chata que fica cutucando as coisas aqui dentro. Fica essa sensação permanente de que o mundo se aglomera no peito e escorre pelos dedos. Essa falta de certeza que vai se embrenhando enquanto eu baixo os olhos e sorrio. Um paradoxo estranho que eu não aprendi a entender.
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Talvez seja culpa da falta de sono. Talvez o nó na garganta seja resultado de uma noite inteira sem dormir. Talvez eu sonhe com isso amanhã. Sonhe com esse tanto de coisas que eu consigo rabiscar enquanto pego o celular pra lembrar dos vídeos que a gente fez enquanto rodava por aí.
Parece que o mundo inteiro acelerou os ponteiros enquanto eu me sinto preso nesse segundo inteiro de saudade. Não tenho vontade de voltar a dormir, não tenho vontade de mascarar as olheiras enquanto olho no espelho e me lembro dela.
Talvez eu sonhe com isso amanhã.
Talvez o mundo nunca volte pro lugar outra vez.
Júlio Hermann
Ótimo! Parabéns pela sensibilidade de sua escrita.
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me tocaram profundamente essas palavras.
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Belo texto, carrega uma sensibilidade gostosa de se ler!
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Aí Júlio ❤
Faz um livro, pelo amor de Deus!
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