(Leia este texto ao som de Another Love)
Uma das máximas mais bonitas que conheci durante a vida foi a de que a gente precisa viver um amor depois do outro. A cronologia é dolorosa às vezes, faz com que deixemos uns pedaços importantes de nós mesmos para trás – por mais que fosse nossa parte mais bonita. Deixamos os detalhes, nossos modos de falar e lidar com as coisas, cada pequeno detalhe do que fomos com o outro para nunca mais. Sobra nosso lado ogro, nossa metade cru, como se linchassem nossa pele e ficássemos em carne viva, sentindo a dor em tempo integral até sarar um pouco. Mas a cronologia é bonita também.
Nós somos resultado de cada um dos amores que passou pela gente. Cada pessoa que passou pelas nossas vidas é parte determinante na nossa maneira de lidar com as coisas. Depois que um amor vai embora, sobram os gostos, os filmes que a gente viu juntos, a literatura compartilhada, a mania de ligar pra saber como foi o dia, o costume de tirar as meias e esquentar os pés no do outro na hora de dormir. Depois da despedida, nos parecemos mais com o outro do que com nós mesmos. Vamos encaixando cada pequena coisa com a maneira alheia de ver a vida. Nos esquecemos num canto pra viver de recortes alheios programados para preencher nossas lacunas incompletas.
Por esse motivo é que precisamos aprender a lidar com os amores passados das nossas vidas e das vidas de quem esbarrarmos daqui para frente. Quando amamos, deixamos de ser inteiros para virar recortes do outro. Um amontoado gigante de maneiras diferentes de acordar de manhã e preparar um café pra dois. Um tumulto de diálogos revividos dentro da cabeça todos os dias. Uma maratona de séries não espaçadas de amor e dor que fazem parte do dia a dia quando a gente se permite amar. O jeito de chorar e limpar a lágrima no canto do rosto, a forma com que pressionamos a face no travesseiro para sentir passar.
Deixar um amor para trás é deixar uma lista inteira de trejeitos para serem refeitos dentro da gente. A próxima pessoa que fizer estadia no nosso peito vai nos ensinar uma maneira nova de enxergar cada uma das coisas que víamos de outra perspectiva até então. Vai nos apresentar um mundo inteiramente novo para que façamos uma expedição e encontremos beleza em um universo que não imaginávamos existir. E é nesse exato ponto em que precisamos aprender a contrastar o passado e o presente para que as coisas deem certo para os dois.
(Siga o autor no instagram | facebook | twitter)
Aceitar os amores que fizeram parte da gente e da vida de quem amamos é fundamental para que possamos fazer a coisa dar certo dessa vez. A outra pessoa não pode apagar o meu passado, eu também não posso apagar o dela, então que peguemos esse amontado de coisas e tentemos construir um futuro um pouco mais feliz dessa vez. Que possamos tirar proveito da bagagem adquirida nos dias cinzas e nos dias felizes que vivemos para garantir uma vida com mais sorrisos do que choros soluçados daqui pra frente.
Viver primeiro um amor, depois outro é um crescimento fundamental para que um dia possamos ser felizes e fazer alguém feliz também. Chegará o dia em que encontraremos um amor que não precisa ficar no passado e seja definitivo. Até lá, que possamos reconhecer que o resultado da equação de todos os nossos amores é fundamental para saibamos quem realmente somos.
Júlio Hermann
Belíssimo texto!
CurtirCurtir
Nossa, sem palavras pra esse texto.
CurtirCurtir
Parabéns Júlio, lindas palavras.
CurtirCurtir